Saiba como evitar o envelhecimento precoce do cérebro e o esquecimento
Texto e entrevistas: Karina Alonso
O que você almoçou ontem? Quando foi a última vez em que foi ao mercado? Essas duas perguntas podem parecer simples, mas há quem não consiga respondê-las sem esquentar um pouco os neurônios. Seja pelo envelhecimento precoce do cérebro ou pela falta de atenção ao executar uma ação, a perda da memória está cada vez mais presente no cotidiano. Segundo Antônio Carlos Perpétuo, fundados do Método Supera (franquia de escolas de ginástica para o cérebro), “é comum apresentar falhas na memória com o passar dos anos. O cérebro pode começar a ter perdas cognitivas a partir dos 30 anos de idade. À medida que ele envelhece, os circuitos ficam menos estáveis e o hipocampo, região do órgão responsável pelas memórias, torna-se menos eficiente”.
Adquirindo informações
Antes de saber como manter viva uma recordação, é preciso entender o que é e como funciona esse mecanismo do cérebro. A memória é a capacidade de adquirir, guardar e utilizar informações e conhecimentos durante a vida, sendo capaz de buscar, conscientemente ou não, fatos e imagens do nosso passado.
Os primeiros estudos sobre a memória foram feitos pelo psicólogo alemão Hermann Ebbinghaus, em 1885, fazendo experiências com seu próprio cérebro. Em seus estudos, ao decorar uma série de listas que continham sílabas que não formavam uma palavra com sentido, mostrou a existência de uma curva de aprendizado e uma curva de esquecimento. O procedimento foi repetido mais de 100 vezes, com listas diferentes e, enquanto o tempo passava após o fim da prova, o processo de esquecimento se tornava mais lento. Ebbinghaus abriu as portas para que estudiosos da área pudessem posteriormente desvendar os mistérios da memória.
Na mente
O processo de memorização é dado por circuitos cerebrais, em estruturas específicas do cérebro, como o hipocampo, local responsável por selecionar e armazenar fatos, e o lobo temporal, de maior impacto na memória de acontecimentos ligados ao passado. A partir do momento em que nos deparamos com um fato novo, o cérebro filtra o conteúdo, procurando saber se a informação já foi registrada ou não. Caso não seja armazenada, o órgão recebe um sinal para que as estruturas responsáveis guardem o dado na forma de memória
O desenvolvimento dessa habilidade foi de extrema importância pra a humanidade, já que possibilitou a sobrevivência da espécie a partir do momento em que o ser humano passou a evitar a prática de atividades que o colocariam em risco, além de possibilitar o desenvolvimento da linguagem e de funções ligadas a relações interpessoais e de convívio em sociedade. Sua importância continua sendo refletida desde o começo de nossas vidas, da alfabetização até a aquisição de uma profissão, momentos que decidem a trajetória de um indivíduo.
Sinais de alerta
Além do envelhecimento natural do cérebro, a psicóloga Vivan Polikar explica que a dificuldade em recordar um fato pode acontecer quando as habilidades cognitivas, acionadas com o uso da memória, não estão funcionando corretamente. “Esse enfraquecimento pode ser causado por lesões no cérebro ou outros distúrbios ou deficiências cerebrais. Além disso, problemas de memórias de memória podem ser decorrentes do subdesenvolvimento dessas competências, ocorrido geralmente com crianças ou da degeneração dessas habilidades, mais comum em idosos”, acrescenta.
O esquecimento de memórias antigas é comum e não considerado um fator de risco. Porém, a partir do momento em que a pessoa começa a ter dificuldades para guardar as memórias recentes, é preciso levantar os motivos com o auxílio de um profissional da saúde. O psicólogo Thiago Sant’Anna, do Hospital Daniel Lipp, explica que “é bom investigar logo nos primeiros sinais de esquecimento, para poder diferenciar o que é algo normal do que é sintoma de alguma doença”.
Sem saída?
O psicólogo conta que “o envelhecimento do ser humano resulta na deteriorização, mesmo que lenta, da capacidade de armazenar informações, fato agravado pelo volume incrível de informações no mundo contemporâneo”. Ou seja, inevitavelmente, um dia o seu cérebro vai envelhecer, mas é possível retardar esse processo. Não é raro encontrar uma pessoa com mais de 90 anos que tenha uma memória invejável.
Existem exercícios e hábitos positivos que, quando antes forem inseridos na sua rotina, melhores serão para a preservação da memória. “Pesquisas mostram que a dinamização da atividade intelectual, como ler bastante e aprender coisas novas, aliada à realização de atividades físicas e o cultivo de um ambiente estimulante e interessante são hábitos importantes para a saúde da memória”, explica Thiago.
Fica a dica!
Não espere esquecer recados e compromissos para começar a prestar atenção na sua saúde mental. Veja algumas atitudes que podem auxiliar na manutenção da memória:
– Movimente-se: além de prevenir doenças como hipertensão e colesterol, a prática de atividades físicas melhora o fluxo sanguíneo do cérebro, evitando a diminuição da habilidade cognitiva e estimulando a formação de neurônios.
– Não fume: fumar prejudica os pulmões e aumenta o risco de doenças cardiovasculares, que podem contrair os vasos sanguíneos do cérebro, afetando diretamente no transporte de oxigênio.
– Tenha vida social ativa: a manutenção do contato com familiares e amigos faz com que as funções cerebrais continuem ativas, além de prevenir o estresse e a depressão.
– Alimente-se bem: um dos fatores que determinam a qualidade de sua saúde é o que você ingere. Alimentos que possuem antioxidantes e vitaminas, como azeite de oliva, vegetais de folhas verde-escuras e cereais integrais, podem auxiliar na prevenção da memória. O consumo de 3 a 5 xícaras de café por dia também é indicado, já que a cafeína ativa a liberação de energia da célula, melhorando o desempenho dos impulsos cerebrais.
– Evite o consumo de álcool: a ingestão de bebidas alcoólicas em excesso é tóxica para o cérebro porque contribui para a queima de neurônios e prejudica o sono.
– Durma bem: após um dia cansativo e cheio de informações novas, uma boa noite de sono consolidará a memória e auxiliará o processo de formação e armazenamento de novas lembranças, para que possam ser recuperadas depois. A falta de sono altera a memória, concentração e tomada de decisões.
– Pratique ginástica cerebral: segundo Antônio Carlos Perpétuo, “além de melhorar as habilidades cognitivas, sua prática mantém o cérebro jovem, pois é responsável por estimular as conexões neurais, garantindo um desempenho efetivo da memória e do pensamento”. Entre os benefícios da ginástica cerebral estão a maior capacidade de memória, atenção, concentração, agilidade de raciocínio e coordenação motora.
Fonte: Revista O Mundo Secreto do Cérebro (Set/2015)