Hospital de Caxias desenvolve trabalho que incentiva os partos naturais. Muitas mulheres ainda preferem a cesariana
Por Lígia Modena
Logo que ficou grávida, Thais Carvalho, de 28 anos, não teve dúvidas sobre a forma como teria a filha: Marya Clara nasceu no mês passado durante um parto normal. A mamãe de primeira viagem foi no caminho contrário de outras (muitas) mulheres que optam pela cesariana.
— Eu só pensei na saúde da minha filha, no que era melhor para ela. Foi um lindo parto e faria tudo de novo. Não sei por que as pessoas têm tanto medo — diz.
Thais é uma das mamães que entraram para as estatísticas de partos normais do Hospital Daniel Lipp, em Duque de Caxias. A unidade foi escolhida para participar do projeto Parto Adequado, da Agência Nacional de Saúde Complementar, que tem como objetivo reduzir o número de cesarianas desnecessárias na rede suplementar.
— Queremos passar, até ano que vem, de 3% para 30% o número de partos adequados no hospital. As mulheres precisam saber que a cesárea nem sempre é a melhor opção — diz o diretor da unidade, Artur Fonseca.
Para que o parto normal volte a ser uma opção frequente, a agência criou regras para quem vai ter um filho com os procedimentos pagos pelo plano de saúde. Uma das mudanças é que todo parto deve ter um documento que registre em detalhes a evolução da mãe até o nascimento da criança. Profissionais e hospitais só recebem do plano depois de apresentarem esse documento.
CONSCIENTIZAÇÃO
Segundo especialistas, desta forma é possível saber quando uma cesárea foi feita sem necessidade.
— Não vamos obrigar a mulher a fazer parto normal. Mas, se ela optar pela cesárea sem indicação médica, vai precisar assinar um documento — explica Fonseca, que pretende conscientizar as pacientes: — Queremos que elas entendam mais sobre o parto adequado e esperem entrar em trabalho de parto. Ou seja, a hora que o bebê quer nascer e não o dia que as mães querem.
Apesar destes cuidados, algumas mães ainda temem o parto normal. É o caso de Ana Paula Moreno da Silva, de 39 anos. Moradora do Jardim Primavera, em Caxias, ela não tem boas recordações do parto da primeira filha e optou pela cesárea no nascimento do segundo.
— Foi muito sofrido, dolorido. Preferi a cesariana quando engravidei novamente — conta.
O Brasil é um dos campeões mundiais em número de cesarianas. Nos hospitais da rede particular, cerca de 85% dos nascimentos em 2014 foram feitos por esse método. Já no Daniel Lipp, o projeto vem dando bons resultados. Somente em julho deste ano, a unidade conseguiu passar de 3% para 18% o percentual de partos adequados.
— Estamos muito felizes com esse resultado. Tenho certeza de que vamos alcançar a meta dos 30% — comenta Priscila Dantas, coordenadora de enfermagem da unidade.
O Hospital Daniel Lipp é particular, mas tem convênio com o SUS e recebe, diariamente, pacientes de hospitais públicos.
Fonte: Extra / Caderno Mais Baixada / 12 out 2015
Foto: Cléber Júnior